Todos esses que aí estão Atravancando o meu caminho Eles passarão Eu passarinho

Thursday, June 14, 2007




VILIPÊNDIO


Um Segundo de Glória








Há mais de um ano postei nesse blog o quão significativo a banda Vilipêndio foi para mim.




Recentemente pude confirmar que a banda continua firme e forte na ativa. No último dia 24 eles deram show na Lapa, não pude ir, mas conferi todas as músicas do novo trabalho ´´Um segundo de Glória``, CD com o qual fui presenteado pelo próprio vocalista, Ricardo Caulfield. Constatei que naturalmente a banda está mais calejada, mais afinada, mais redonda, embora os dois CDs tivessem suas próprias qualidades e defeitos. A voz de Ricardo já não está mais tão aguda como antes, não que isso seja ruim, mas ela imprimia uma certa propriedade ao som, assim como as guitarras distorcidas e viscerais, que em Um Segundo de Glória estão mais trabalhadas, melhor arranjadas. O novo CD ganha pela qualidade e variedade de som. As letras estão mais claras, mais centradas e representativas, diferentes das de ´´15 Abismos``, onde eram mais metafóricas, agressivas e de um sarcasmo até mesmo juvenil. Uma marca interessante do novo CD é a história de uma figura antológica acusada de diversos homicídios na Baixada Fluminense, dividida em duas partes. A primeira, ´´A História de João H (a lenda)`` conta o que a imprensa publicava na época. A segunda, penúltima música do CD, ´´A História de João H (A verdade)``, é a desmistificação do assunto, onde um homem de problemas mentais é preso em um momento de insanidade, posteriormente acusado de ter cometido vários homicídios, o que o tornou uma lenda viva. Ambas as músicas iniciam-se com uma belíssima introdução de baixo (meu instrumento favorito) e seu contexto dá o título ao álbum.
Em minha opinião, as melhores músicas são ´´Mulheres apaixonadas não entram em açougues``, sobre a diferença entre os sexos, ´´Os excluídos``, excelente crítica social, e ´´As cores da rotina``, uma música bem radiofônica, assim como ´´Por motivos banais (como sexo, drogas e religião, ele foi morto, pelo melhor amigo, no aniversário)``, que de todas é a mais cantada. O modo pausado de cantar, característico de Ricardo, continua presente. Os riffs da faixa ´´Anestesiado`` faz lembrar bastante a guitarra crua e distorcida das músicas do primeiro trabalho, assim como ´´A saga de um hospital público`` lembra particularmente ´´Quem vive de juras``, pelo arranjo. Quanto as músicas mais ligeiras que incitam a vontade de se chacoalhar, em 15 Abismos tivemos o gostinho de ´´Paraíso``, já nesse novo podemos contemplar ´´Shangri-lá`` (música de abertura, iniciada com um canto de passarinho), ´´Gosto de chegar atrasado`` e a já citada ´´A História de João H (A verdade)``. ´´A saga de um hospital público`` é uma interessante crítica social aos hospitais públicos brasileiros, indiferentemente de ter citado um enfermeiro que matava os pacientes para ganhar comissão de uma funerária, afinal é um caso isolado, já os problemas dos hospitais públicos estão presentes em diversos hospitais e em centenas de emergências. ´´Fantoches da mídia`` casa bem letra e música, ficando uma ótima combinação. O CD se encerra com uma interessante música de suspense.
De uma maneira global, Um segundo de Glória supera o 15 Abismos, mas ainda considero a melhor música ``Olhos Vermelhos``, que para mim é imbatível.
Agradeço mais uma vez a Ricardo Caufield pela oportunidade de conferir o novo trabalho da banda, e torço para que consigam lançar mais CDs, e que não levem muito tempo para isso. Muitos shows e videoclips.
Nunca tive a oportunidade de conferir a banda ao vivo, mas na próxima vez que eu tiver conhecimento de um show próximo, vou procurar não perder.
Vida longa para Vilipêndio!!!




Por que as crianças gostam tanto de monstros?

Se formos parar para analisar o que atrai meninas de sete a dez anos, a resposta será consensual: roupinhas bonitas, boneca Barbie, quarto decorado com bichinhos fofos de pelúcia e todo cor de rosa. Se formos parar para analisar no que os meninos dessa mesma faixa etária curtem, a resposta já não será tão consensual. Algumas pessoas dizem que gostam de brincadeiras ao ar livre, como esportes tipo futebol, videogames Playstation, carrinhos e robôs de brinquedo. Mas esquecem do que para mim é considerado o item número um da lista: criaturas horrendas. Sim, as crianças dessa idade sentem uma enorme atração por monstros, Ets, e bichos asquerosos. De onde eu tirei essa conclusão? Muito simples. Primeiramente me baseio na minha infância. Eu adorava monstros de brinquedo, até tinha um E.t de estimação que carregava comigo para todos os lados que eu ia, seu nome era Neb, um hit da Balila (lembro até da fabricante) de grande sucesso no início dos anos 90. Mais para frente, meu xodó já não era uma coleção de bonecos Comandos em ação ou Transformers, desses que de veículo se convertem em robôs, embora tivesse um pequeno acervo deles, mas sim répteis grandiosos, de plástico, que escancarava a bocarra cheia de dentes para devorar os mais indefesos, popularmente conhecidos como dinossauros. Acredito que assim como eu, milhares de crianças se afeiçoam por criaturas tidas como abomináveis para as pessoas mais velhas ou do sexo feminino. A criança sente um particular envolvimento e admiração com criaturas fantásticas, para não chamar de identificação. Mas quem disse que isso é diferente? As crianças não enxergam nada de bizarro e grotesco nas criaturinhas esquisitas, elas nutrem uma forte simpatia, assim como as meninas acham fofo os singelos bichinhos de pelúcia que ostentam ao lado da cama. Os monstros do imaginário têm um certo q de masculinidade, de viril, visto que seres como eles esmagam prédios e destroem casas como o ícone Godzila, por exemplo. Os monstrinhos são uma versão masculina do que bichinhos de pelúcia são para as meninas.
Embora em grande parte de filmes somos acostumados a vê-los como vilões, o certo é que essa não é a única essência de uma criaturinha diferente. Elas causam prejuízo sim, mas nem sempre são más ou devoradoras de gente, algumas são apenas agitadas e gostam de fazer travessuras, como os Gremlins, e isso que faz reforçar a fascinação dos meninos por eles. Assim como os Gremlins, as crianças dessa idade são levadas, gostam de bagunçar tudo, e vivem sendo repreendidos ou sendo escorraçadas por suas vítimas, como as meninas da mesma idade, irmãos mais velhos, pais ou educadores, mas nenhum deles as tratam mal embora sejam tão malcriadas. Elas tem seu valor reconhecido e sabem que não são nenhum ser do mal, já que ´´meninos são assim mesmo``. Cada vez mais elas vão se sentindo mais parecidas com essas criaturinhas, já que elas divertem a família toda, justamente por serem terríveis. Aliás, as criaturas diferentes têm uma considerável carga de humor. O que a princípio pode causar estranhamento visual e puxar para o lado nefasto, sombrio do ser, por outro, esse mesmo estranhamento, por sair do limite do normal, toma proporções cômicas e tendem para o sarcasmo. É muito comum em filmes de terror, em vez de uma criatura fora do comum provocar medo e fissuras, incitar o espectador a dar umas boas risadas e debochar de sua proporção física. São elas corcundas, deformados, monstros bocudos, de asa, de rabo, escamosas, dentuças, de olho na boca, etc etc. Há aqueles que de tão bem humoradas, tornam-se até mesmo fofas e infantis, como desenhos cujos personagens são monstrinhos, tipo Shreck, sucesso absoluto, e Monstros s.a. O monstro dos filmes de desenhos infantis não são malignas, vítimas de sua própria existência ou rejeitadas do contexto da normalidade. Pelo que vemos, são criaturas felizes, que gozam de boa saúde e sabem aproveitar muito bem sua vida como sendo diferente. Eles gostam de serem assim, e não são menos queridas por isso. Não lhe faltam amizade, carinho, e nunca estão sozinhas. Como vimos nos Monstros s.a, a garotinha Bu se afeiçoa pelo grande monstro peludo azul e de chifres Sullivam desde o princípio, o batizando carinhosamente de ´´gatinho``. Vale lembrar que em vez de ter medo, ela se divertia com as palhaçadas dele e de seu companheiro ainda mais feioso Mike, se acabando na risada, fazendo os monstrinhos em fim descobrirem sua real vocação.
Os monstros têm uma longa história no imaginário do povo que não seja a conotação de aberrantes criaturas do mal. São eles gnomos, criaturinhas do mundo esotérico, da fantasia e que tem tudo a ver com o universo infantil, como os do Pokemon. Vamos lembrar da família Adams e rir com ela, dos brinquedos infantis Lango lango, em que cada boneco desses que dava soco um era mais feio que o outro, e justamente os mais feios eram os mais disputados pela criançada, das figurinhas Ploc Monsters transfíx, que fazia a garotada vibrar por cada novo monstrinho não repetido, do álbum de figurinha Gangue do Lixo, do gibi da Turma do Arrepio, do fantasminha camarada, do Penadinho da Mônica, dos filmes História sem Fim e E t, o Extraterrestre, dos monstros ajudantes dos super heróis dos filmes e seriados de ficção, entre várias outras galerias. Eles possuem uma peculiaridade grandiosa que é a da inovação, do diferente, do que não estamos acostumados, provar que a aparência física não é nada, que não se julga o visual, e que um ser do bem pode ter diversas variedades corporais. Os monstrinhos despertam a ternura de uma criança por assemelhar-se a um animalzinho, por ser demais diferente, desses que desejamos dar carinho, cuidar e proteger, além de que, um dia, poder sonhar que essa mesma criatura torne-se um ser poderosíssimo para tomar conta delas, quando elas precisarem, como mastigar e engolir aquele que representar uma ameaça. Um monstrinho meigo e inofensivo pode ter diversas facetas. Vide Eragon.
Deixaremos as crianças sonharem e se divertirem com o mundo das criaturas fantásticas e diferentes do ser humano, que é o pior mal, enquanto ainda podem se maravilhar com o lado bom da vida.